Ainda sou do tempo em que o tempo da Quaresma era vivido com muita intensidade, devoção e fé.
A culminar todo este precurso de fé, conversão, abstinência, jejum e renúncia de bens materiais, chegávamos à Semana Maior, mais fortalecidos espiritualmente e mais capazes para compreender o grande mistério da Salvação.
Quase todas as instituições públicas e privadas, entravam e entranhavam no espírito desta quadra, tão libertadora quão festiva.
Nas últimas décadas, e em especial nestes últimos anos, e mercê duma laicização e secularização crescente da sociedade, muitos dos costumes, hábitos, regras e tradições desta quadra foram sendo relaxados ou substituidos por manifestações de carácter profano, com vista a preencher para alguns este tempo de férias intermédias.
Todavia, e não obstante toda esta revolução social e cultural a que assistimos, o Estado Português, através dos seus mais variados orgãos, sempre respeitou o significado desta quadra, mesmo em épocas politica ou economicante conturbadas, concedendo aos seus funcionários, agentes e servidores, a habitual e generosa «tolerância de ponto» na tarde de Quinta-Feira Santa e que podia ser alternada com a Segunda-Feira, imediatamente a seguir ao Dia de Páscoa.
Esta concessão de tolerância de ponto representava o respeito que o Estado tinha para com a maioria da população portuguesa, açoriana e madeirense, que é de matriz cristã e católica.
Não podemos esquecer que esta quadra - e que coincide com férias escolares - é sempre um momento importante de reunião familiar e de espiritualidade, tão necessária nas actuais circunstâncias e numa sociedade devastada pelo deve e haver, e nalguns casos mais extremos, sodomizada pelos novos adoradores do Bezerro de Oiro.
Ao não conceder essa tradicional «tolerância de ponto», o Governo Português, representando o Estado Central, abriu um precedente muito grave, pois não se deve afrontar as tradições culturais e religiosas dum Povo.
Fizeram bem o Governo dos Açores, todas as nossas Câmaras Açorianas, assim como a RA da Madeira, ao concederem tolerância de ponto nesta quadra.
Bem sei que a verdadeira Fé ou a participação nas cerimónias pascais, não depende necessáriamente desta ou daquela tolerância de ponto (pois durante estes dias muita gente está trabalhando), contudo a sua concessão liberta a sociedade dalgumas rotinas e cria uma atmosfera mais consentânea com o espírito que preside à Semana Santa.
Não só de pão vive o homem, e é nestes tempos de chumbo e de incertezas permanentes, que os dirigentes dum País ou duma Nação devem transmitir, quer por palavras, quer por actos ou gestos simbólicos, algum conforto e principalmente Esperança.
Infelizmente, o Governo Central, a pretexto de troikas e troykismos, continua a vergastar e a punir os cidadãos, como estes não fossem a razão e a condição do seu próprio desempenho e trabalho.
Numa breve auscultação de rua notámos alguma amargura e desconforto por mais este sinal de punição e sobranceria, como isso trouxesse mais produtividade ou estabilidade a um país completamente devastado e desnorteado.
A todos, uma Feliz e Santa Páscoa.
Sem comentários:
Enviar um comentário