quinta-feira, 14 de junho de 2012

NO DIA DE PORTUGAL, O SR. REPRESENTANTE DA REPÚBLICA ACONSELHOU OS JOVENS AÇORIANOS A EMIGRAR...

[Os Emigrantes, pintura a óleo sobre tela da autoria do grande pintor e mestre açoriano Domingos Rebelo (1926)]


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Há uns poucos meses a esta parte, a grande maioria dos portugueses, dos comentadores e dos observadores politicos ficaram muito indignados com as declarações do PM de Portugal, Pedro Passos Coelho, quando alvitrou - e até aconselhou - a emigração como saída profissional ou tábua de salvação para os desempregados portugueses, em especial os jovens.


Do ponto de vista institucional essas declarações foram graves e inadequadas. Todavia, e tendo em consideração que o actual PM, para além de governante, é chefe dum partido e duma determinada facção politica, devemos contextualizar essas mesmas declarações.


Graves sim, foram as declarações proferidas pelo Exmo Sr. Representante da República na Região Autónoma dos Açores, no seu discurso comemorativo do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, proferido na cidade de Angra do Heroísmo.


Fazendo fé nas notícias que nos chegaram, nomeadamente através do Telejornal produzido pela delegação local da RTP, o Sr. Representante da República no nosso arquipélago aconselhou a emigração como saída possível para o crescente problema do desemprego que afecta os jovens açorianos, embora utilizando vocabulário mais soft e/ou modernaço, como é a referência à mobilidade...


Num dia solene como é, e deve ser o Dia de Portugal, este tipo de declarações e juízos de valor sobre esta realidade social que nos aflige a todos - o desemprego-, revelam muita pouca diplomacia e até fazem crer na cabeça do cidadão comum que Portugal tem como doutrina oficial imediata o abandono dos seus cidadãos à sua sorte, nomeadamente convidando-os à emigração compulsiva.


De facto, a História recente de Portugal é feita de sucessivos abandonos, negligências e traições.


Desde os abandonos dos portugueses e dos seus haveres nos territórios ultramarinos (a maioria deles chegou à Metrópole e às Ilhas Adjacentes com a roupa que tinha no corpo); desde o desmantelamento de grande parte da capacidade industrial portuguesa; desde o abandono dos campos e das pescas, através de acordos ruinosos com a então CEE, mais tarde União Europeia; a entrega dos nossos mares a uma assimétrica politica comum de pescas europeia; desde o abandono do interior, das serras e das zonas raianas continentais (hoje grande parte do interior de Portugal está entregue aos bichos...); desde o abandono dos emigrantes com o fecho sistemático de embaixadas e serviços consulares, etc. E depois disto tudo, esta politica oficial de abandono chega às ilhas - naquilo que é a justificação da presença de Portugal aqui - com o encerramento de serviços de finanças, tribunais, registos notariais, esquadras de polícia, etc, etc- e com o convite oficial para que os nossos jovens voltem novamente a emigrar.


Antes Portugal dáva-lhes uma guia de marcha para África; hoje tem para lhes dar um passaporte para sair da sua própria terra.


Felizmente, os Açores já tomaram consciência da sua situação e já possuem orgãos de governo próprio para, numa primeira fase, contrariar a politica de abandono preconizada pelo Estado Português, e numa segunda fase, assumirem pacifica e gradualmente os espaços vazios, pois a natureza tem horror ao vazio.


Agora, a História dos coitadinhos não vai repetir-se entre nós...

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