Nessa comunicação o PR afirmou que alguns artigos desse Estatuto punham em «risco sério o equilibrio institucional».
Nessa data o signatário encontrava-se no estrangeiro e foi através da EuroNews que tomámos conhecimento dessa comunicação e das suas consequências imediatas.
Por uns instantes - tal era a gravidade do momento e o semblante cerrado do respectivo orador! - pensei que os meus Açores tinham declarado unilateralmente a independência.
Hoje, quando confrontamos esse momento e os motivos evocados e elencados para anunciar o famigerado veto politico ao Estatuto, ficamos deveras perplexos e estarrecidos, com o que aconteceu a partir daí , e em especial nestes últimos tempos onde tem havido pontapés a eito na bucólica e tão mal tratada Constituição da República Portuguesa.
A verdade é que a partir desse momento as contradições do poder politico em Lisboa (maioria governamental e oposições) e as fintas institucionais entre os diversos orgãos de soberania (PR, AR e Governo Central) acentuaram-se , tendo como consequência imediata a ruptura dum consenso que tinha sido alcançado nos Açores.
Lembramos em especial a posição que os apoiantes do PR nos Açores assumiram a partir desse veto.
De apoiantes incondicionais do Estatuto, os cavaquistas locais começaram a roer a corda e progressivamente foram aderindo às teses do PR, transportando este facto politico para a luta politica interna nos Açores, fragilizando a nossa posição em relação à República.
Nunca fomos entusiastas desta Autonomia, todavia não deixamos de reconhecer que para atingirmos pacifica, democrática e conscientemente um grau superior de autonomia ou de auto-determinação, é necessário percorrer uma longa caminhada (step by step).
E o que sucedeu a partir desse momento foi a paragem nesse processo, ao qual alguém já o tinha apelidado de progressivo.
Inclusivamente, o Estatuto foi expurgado da expressão jurídica «Povo Açoriano», como as pessoas que aqui nasceram, viveram, defenderam estas ilhas e que construiram uma identidade própria, fossem confundidas com os habitantes dalgum subúrbio continental (com todo o respeito que temos por eles!) e que como sabemos não têm raízes históricas ou culturais ao lugar.
E foi a partir desse momento que os bloqueios institucionais, associados à eclosão da grave crise económica e financeira que ainda estamos a viver, foram surgindo paulatinamente nos Açores e contra os Açores.
Não é por acaso que a partir dos finais de 2008 até à actualidade, temos vindo a assistir a uma crescente animosidade contra os Açores; a uma inveja da nossa autonomia e da nossa maneira de viver e a uma crescente agit-prop, alimentada por algumas instituições nacionais, por muitos grupos de comunicação social e em especial muitos comentadores (ex-governantes e não só..) com avença em dia.
Infelizmente, nessa guerra montada e planeada contra os Açores, houve a colaboração e a participação de muitos dos nossos conterrâneos.
(cont.)
Figura: Mapa-mundi com as rotas marítimas percorridas pelo nosso navegador solitário, Sr. Genuíno Madruga, numa das suas viagens de circum-navegação.
Mesmo sem ser secessionista, confesso que não gostei do modo como o PR conduziu os seus desacordos com o EPARAA.
ResponderEliminarContudo, mesmo ao nível da autonomia, a capacidade reivindicativa dos Açores só é real quando a região conseguir ser economicamente autossuficiente e não apresentar uma economia onde os seus rendimentos são em grande parte cobertos por transferências nacionais e europeias cujo valor seja maior do que aquilo que produzimos em bens transacionáveis. Até lá é mostrar-se hipocritamente fortes enqunnto se anda de mão estendida a pedir
Dr. Carlos Faria:
ResponderEliminarEfectivamente só podemos ascender à nossa «independência» se conseguirmos optar por um modelo económico, jurídico, politico e social que seja sustentável.
Não é o que acontece presentemente, onde o modelo económico vigente nos atira para as «dependências crónicas».
Haja o «poder regional» que houver, pois nunca sairemos desta quadratura do círculo, senão mudarmos radicalmente.
Basta olhar para as actuais competências do nosso GR -ao qual todos correm e reinvindicam soluções! - para vermos que o nosso governo «regional» está impedido de fazer coisas muito simples, como aquelas que recentemente foram vetadas pelo Representante da República.
Quanto ao Sr. Presidente da República, devemos considerar que é um caso perdido para os Açorianos, por culpa duma cumplicidade cínica que aqui se radicou.
A «sombra de Cavaco» já perdura há muito tempo nos Açores.
Lembro que ele, enquanto PM, foi muito ruim para o nosso Arquipélago e nessa altura o Dr.Motal Amaral muito «sofreu» para ultrapassar todas aquelas dificuldades.
Foram tempos desprezíveis, onde a figura tutelar dos então Ministros da República criava incidentes e colocava bloqueios institucionais à nossa governação autónoma.
Ainda estou lembrado que o então PM, Prof. Cavaco Silva, encomendou a um dos seus assessores da altura, julgo que o Prof. João César das Neves, um «estudo de viabilidade económica» referente às Autonomias...
Enfim, afrontas que muitos e muitas querem «branquear»
para atingir os seus propósitos politico-partidários mesquinhos.
Felizmente ainda há muitos contemporâneos (governantes, deputados, militantes, cidadãos anónimos ) da governação do Dr. Mota que não se esqueceram.
Pois quem não sente, não é de boa gente...